Passeio Público |
Pensado por Reinaldo Manuel, o Passeio Público, como já vimos, começa por ser desenhado sobre os terrenos que existiam a norte do Rossio – hortas da Cera e da Mancebia e o denominado sítio de Valverde, de que era proprietário o conde de Castelo Melhor.
Antecipando o modelo que viria a estruturar o próprio romantismo, com um plano que punha em prática a teoria da necessidade da vida urbana não perder contacto com o mundo rural, o jardim aprazível, aquele local, fora do espaço urbano, a que supostamente os lisboetas poderiam ter acesso “para passearem livres de lama”, começava por dar lugar a uma espécie de bosque que não atraía os lisboetas e, por isso, haveria de se manter completamente deserto e abandonado até 1836. A partir desta data, e dado o interesse demonstrado por D. Maria II em renovar o velho jardim, sob a orientação do arquitecto Malaquias Ferreira Leal, os antigos muros foram substituídos por grades e os espaços abertos e reinventados tendo em conta uma nova concepção, mais moderna e mais humana do chamado passeio público, onde, agora, e de acordo com o desenho de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, aberto na madeira por Baptista Coelho, era possível ver um obelisco, repuxos, estátuas de figuras míticas – algumas da autoria de Alexandre Gomes – e, sobretudo pessoas a veranear e crianças a brincar. Seguir o exemplo de D. Fernando II, que gostava de passear ao ar livre, tornava-se num hábito que os lisboetas começavam a adoptar como moda.
Todavia, até aos anos 50, década em que a iluminação a gás e a dinamização de festas, concertos ou exposições passaram a animar definitivamente o espaço, então ampliado, as críticas à “velha quinta provinciana” mantiveram-se, redobradas, sobretudo às opções estéticas que estavam subjacentes à escolha das esculturas e dos novos equipamentos lá colocados:
Começa por um pequeno jardim, e segue com uma alameda em verdade muito formosa, mas este pedaço de terreno, destinado ao passeio publico, está por tal fórma arrebicado com ornatos de máu gosto, que desdiz muito do estado de cultura em que realmente nós estamos.
Desde o pesssimo gosto do risco dos portões, até á cascata, que parece feita de barro por dois pequenitos, que ali estiveram amassando e moldando assim para seu desenfado, não ha cousa que não seja muito e muito caturra. Aquelles rios que estão despejando agua sêcca sobre hervas, que só se humedecem com a chuva, esses não tem rivaes em nenhum passeio da Europa!
Em razão desta opinião publicada em 1847, no jornal A Illustração, e de muitas outras que contrariavam a daqueles que gostavam do seu Passeio Público, e que, em 1874, chegaram a motivar um abaixo-assinado contra a ideia da sua substituição por uma avenida projectada por Domingos Parente da Silva, mas sobretudo porque o desenvolvimento urgente da cidade se projectava na direcção do Campo Grande, passando por S. Sebastião da Pedreira e pelo Campo Pequeno, a verdade é que, em 1879, por iniciativa de Rosa Araújo, na altura o presidente do município, e de acordo com uma proposta defendida por Ressano Garcia, dava-se início às obras que poriam fim à sua controversa existência.
Sete anos mais tarde, associada às celebrações do casamento do príncipe D. Carlos com D. Amélia de Orleães, a Avenida da Liberdade é inaugurada com a presença de uma parada militar.