quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ainda sobre o Passeio Público e Baptista Coelho

Passeio Público

Pensado por Reinaldo Manuel, o Passeio Público, como já vimos, começa por ser desenhado sobre os terrenos que existiam a norte do Rossio – hortas da Cera e da Mancebia e o denominado sítio de Valverde, de que era proprietário o conde de Castelo Melhor.

Antecipando o modelo que viria a estruturar o próprio romantismo, com um plano que punha em prática a teoria da necessidade da vida urbana não perder contacto com o mundo rural, o jardim aprazível, aquele local, fora do espaço urbano, a que supostamente os lisboetas poderiam ter acesso “para passearem livres de lama”, começava por dar lugar a uma espécie de bosque que não atraía os lisboetas e, por isso, haveria de se manter completamente deserto e abandonado até 1836. A partir desta data, e dado o interesse demonstrado por D. Maria II em renovar o velho jardim, sob a orientação do arquitecto Malaquias Ferreira Leal, os antigos muros foram substituídos por grades e os espaços abertos e reinventados tendo em conta uma nova concepção, mais moderna e mais humana do chamado passeio público, onde, agora, e de acordo com o desenho de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, aberto na madeira por Baptista Coelho, era possível ver um obelisco, repuxos, estátuas de figuras míticas – algumas da autoria de Alexandre Gomes – e, sobretudo pessoas a veranear e crianças a brincar. Seguir o exemplo de D. Fernando II, que gostava de passear ao ar livre, tornava-se num hábito que os lisboetas começavam a adoptar como moda.

Todavia, até aos anos 50, década em que a iluminação a gás e a dinamização de festas, concertos ou exposições passaram a animar definitivamente o espaço, então ampliado, as críticas à “velha quinta provinciana” mantiveram-se, redobradas, sobretudo às opções estéticas que estavam subjacentes à escolha das esculturas e dos novos equipamentos lá colocados:

Começa por um pequeno jardim, e segue com uma alameda em verdade muito formosa, mas este pedaço de terreno, destinado ao passeio publico, está por tal fórma arrebicado com ornatos de máu gosto, que desdiz muito do estado de cultura em que realmente nós estamos.

Desde o pesssimo gosto do risco dos portões, até á cascata, que parece feita de barro por dois pequenitos, que ali estiveram amassando e moldando assim para seu desenfado, não ha cousa que não seja muito e muito caturra. Aquelles rios que estão despejando agua sêcca sobre hervas, que só se humedecem com a chuva, esses não tem rivaes em nenhum passeio da Europa!

Em razão desta opinião publicada em 1847, no jornal A Illustração, e de muitas outras que contrariavam a daqueles que gostavam do seu Passeio Público, e que, em 1874, chegaram a motivar um abaixo-assinado contra a ideia da sua substituição por uma avenida projectada por Domingos Parente da Silva, mas sobretudo porque o desenvolvimento urgente da cidade se projectava na direcção do Campo Grande, passando por S. Sebastião da Pedreira e pelo Campo Pequeno, a verdade é que, em 1879, por iniciativa de Rosa Araújo, na altura o presidente do município, e de acordo com uma proposta defendida por Ressano Garcia, dava-se início às obras que poriam fim à sua controversa existência.

Sete anos mais tarde, associada às celebrações do casamento do príncipe D. Carlos com D. Amélia de Orleães, a Avenida da Liberdade é inaugurada com a presença de uma parada militar.

sábado, 18 de junho de 2011

Hortas na Avenida de Liberdade

Passeio Público

No dia em que a Câmara Municipal de Lisboa, numa iniciativa que pretende incentivar a produção nacional, decidiu transformar a Avenida da Liberdade numa horta, onde se pretende realizar um chamado mega-piquenique, talvez valha a pena recordar, por curiosidade na relação dos factos, que aquele foi um espaço de hortas, pertencente à casa nobiliária dos marqueses de Castelo Melhor, adquirido por Marquês de Pombal para a construção do antigo Passeio Público da cidade. Jacome Ratton, nas suas Recordações editadas em 1817, confirma que ali terão existido umas hortas, as chamadas hortas de Cera, onde terá sido despejado todo o entulho proveniente da derrocada dos edifícios, aquando do terramoto de 1755.
Dos viveiros da Barca d’Alva, propriedade do mesmo Jacome Ratton, terão saído todas as árvores freixos que ali foram posteriormente plantadas, transformando o espaço até 1836, de acordo com notícia publicada no Universo Pittoresco, em 1840, num bosque de 300 metros de comprimento, “todo murado, com 15 janelas de grade por banda”. Em 1838 a obra terá finalmente terminado com a substituição de alguns dos tapumes provisórios por portões de ferro, no lado do Rossio, a anexação do largo onde, até então, se realizava a Feira da Ladra e a iluminação a gás, que funcionaria apenas no verão.
Desse espaço existem memórias impressas, uma delas desenhada por Barbosa Lima e gravada por José Maria Baptista Coelho, o que nos permite lembrar que o referido Baptista Coelho nasceu em 1812 e faleceu em 1891, duas datas que mereciam a atenção de Lisboa, a cidade a que, como gravador, o mesmo Baptista Coelho mais tempo dedicou, deixando-nos uma obra gráfica notável, mas também uma relevante e indispensável fonte histórica e cultural.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010